domingo, 23 de dezembro de 2012

O projeto secreto por trás de Belo Monte.

MPF investiga projeto de extração de ouro na região de Belo Monte.



O Ministério Público Federal abriu investigação sobre a implantação de um projeto de mineração de ouro em área próxima à futura hidrelétrica de Belo Monte, na região de Altamira (a 900 km de Belém). O projeto foi apresentado na semana passada pela empresa canadense Belo Sun Mineração, em audiência pública na cidade de Senador José Porfírio (a 906 km de Belém), que concentrará a maior parte do empreendimento. E já começa a provocar polêmica.
Funcionará na Volta Grande do Rio Xingu, região onde vivem índios arara e juruna, que têm promovido protestos contra Belo Monte. O empreendimento ficará a 20 km de distância da hidrelétrica.
A empresa prevê investir R$ 760 milhões no projeto. A previsão é começar a implantação em 2014 e a extração do ouro, em 2016. Funcionará durante 12 anos, tempo estimado para esgotar a reserva. A produção de ouro estimada é de 4.684 kg por ano. A empresa afirma que é o maior projeto de mineração de ouro do Brasil. A Belo Sun diz ainda que, depois dos 12 anos, o local poderá ser reaproveitado para atividades de turismo.
A revelação de que “Projeto bilionário de grupo canadense quer extrair ouro no Xingu” (Valor, 17/09) comprova o que vários opositores da construção da usina Belo Monte há anos vêm afirmando. A megahidrelétrica não é o único projeto que grandes grupos econômicos têm para a região onde está sendo erguida a planta energética mais polêmica do Brasil.
Vários especialistas afirmam que, sozinha e sem os subsídios governamentais, a usina não é viável economicamente.
Para fazer jus à montanha de dinheiro que o governo coloca no projeto (só o BNDES comprometeu-se com R$ 24 bilhões), é preciso haver razões ocultas, ou outros projetos “secretos” como este que agora vem à tona, o da corporação mineradora Belo Sun Mining, sediada em Toronto.
Os mesmos especialistas especulam que há outras usinas projetadas para o trecho a montante de Belo Monte. Assim, funcionando de forma articulada, garantiriam-lhe a viabilidade que isoladamente a usina não tem.
Agora sabe-se para quê: “Nas terras indígenas da região do Xingu próximas aos canteiros de obras da UHE Belo Monte estão concentrados pedidos de autorizações de pesquisa e lavra de minerais nobres, como ouro, diamante, nióbio, cobre, fósforo, fosfato”, escreveu no jornal Correio da Cidadania a pesquisadora Telma Monteiro, antiga observadora dos megaprojetos na Amazônia.
Há muito os canadenses revelam sua intenção de explorar o ouro do Xingu. Em apresentação na Fundação Getúlio Vargas no Rio de Janeiro em 2010, a Belo Sun Mining já afirmava que planeja o início da mineração em 2015.
De tão ambiciosos e impactantes, é absolutamente impossível que os planos não fossem de conhecimento do governo federal, seja por informes dos arapongas da Abin, seja por força dos canais que o Ministério de Minas e Energia cultiva com grandes corporações internacionais.
O Ministério Público Federal afirma que o relatório de impacto ambiental do projeto não menciona os impactos cumulativos, provocados em conjunto pelo projeto de mineração e pela hidrelétrica de Belo Monte, nem cita eventuais impactos aos índios.
O órgão está levantando informações sobre o empreendimento. Os procuradores querem que sejam feitas mais audiências públicas.

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