sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Fruto do mar prejudicado por aquecimento

Salada Verde21 de Fevereiro de 2011



O aerosol formado pela poeira é claramente visível em imagens de satélite sobre o Oceano Atlântico, desde o oeste da África ao Caribe e Golfo do México. Crédito: SeaWIFS Project, NASA/Goddard Space Flight Center and ORBIMAGE.

Um painel apresentado neste fim de semana, durante o encontro anual da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) trás más notícias para quem curte saborear frutos do mar em uma bela praia ensolarada. Projeções realizadas para os próximos trinta anos indicam que deve aumentar a possibilidade de infecções veiculadas pela água e de surtos de algas tóxicas, conhecidas como “maré vermelha”. Os estudos foram preparados pelo Consórcio Iniciativa de Saúde Humana e dos Oceanos do NOAA, que reúne diversas universidades e centros de pesquisas americanos.

Crescimento de vibriões em resposta à adição de poeira pode ser visto facilmente após 24 horas. À esquerda, Vibrio cholerae em água salgada com ferro limitado. À direita, Vibrio cholerae em água salgada com ferro limitado, suplementada com poeira do deserto marroquino. Credito: E. Lipp, UGA.
O aumento do calor associado com maior presença de poeira de desertos na atmosfera podem favorecer a presença de vibriões, bactérias associadas a diversas infecções, entre elas o cólera, na água do mar. A poeira dos desertos dispersa na atmosfera é uma das principais fontes de ferro, elemento essencial para diversas formas de vida, como estas bactérias. E a concentração desta poeira têm aumentado nos últimos 30 anos e, com base nas chuvas que vêm sendo observadas na África Ocidental, devem continuar a aumentar nos próximos anos. Pesquisadores americanos demonstraram que a adição de poeira do deserto à água salgada estimula o crescimento e a persistência dos vibriões.

“Em 24 horas, em uma mistura de poeira do deserto do Marrocos com água do mar, vimos um crescimento de 10 a 1000 vezes nos vibriões, incluindo uma das cepas que podem causar infecções nos olhos, orelhas e feridas abertas e uma outra que pode causar cólera”, afirma o PhD Erin Lipp. “Nosso próximo passo nestes experimentos será examinar a resposta de estirpes associadas à infecções relacionadas com mariscos”, completa. De acordo com os pesquisadores, desde 1996, casos de infecções provocadas por vibriões aumentaram 85% nos Estados Unidos, devido principalmente a doenças transmitidas por frutos do mar. Este aumento poderia ser explicado, segundo os pesquisadores, pelo aumento da presença de ferro e da temperatura da superfície dos oceanos, projetando o agravamento desta situação no futuro.

As projeções indicam que a indústria de mariscos do estado americano de Washington, que movimenta US$ 108 milhões, pode ser afetada por surtos mais frequentes e duradores da alga Alexandrium catenella, que produz uma toxina que se acumula em crustáceos. Se consumida por seres humanos, pode causar sintomas gastrointestinais e neurológicos, como vômitos e paralisia muscular, e até mesmo morte em casos extremos. Conforme as projeções, as “marés vermelhas” podem começar até dois meses antes do que ocorrem atualmente e se prolongar por mais tempo (Veja gráfico). Para os pesquisadores, o modelo pode ser utilizado em outras áreas costeiras do mundo afetadas pela “maré vermelha”.

A preocupação com o Grandes Lagos está na infraestrutura de esgoto da região, que seria mais sujeita a transbordamentos devido ao aumento na frequência de tempestades provocado pelo aquecimento global. Quando os esgotos transbordam liberam bactérias, vírus e protozoários nas praias e na água potável. Modelos climáticos desenvolvidos pela Universidade de Wisconsin indicam aumento das chuvas durante a primavera, quando o chão está congelado e a água da chuva não pode ser absorvida. Nestas condições, mesmo chuvas em pequena quantidade (1,7 polegadas por dia) podem causar inundações na primavera. “E a combinação com o aumento da temperatura – mudando a queda de neve para chuvas e aumento da precipitação – pode atuar sinergicamente para aumentar o impacto,” afirma Sandra McLellan, PhD da Universidade de Wisconsin.

McLellan e colegas mostraram que, sob cenários mais pessimistas, haveria um aumento médio de 20% no volume das inundações, que segundo eles devem persistir por mais tempo. “Em Milwaukee, investimentos em infraestrutura de esgoto tem reduzido o transbordo em três vezes por ano, mas outras cidades ao redor dos Grandes Lagos ainda experimentam inundações 40 vezes por ano. Centenas de milhões de dólares são gastos em infraestrutura urbana, e estes investimentos precisam ser direcionados para problemas que têm maior impacto na qualidade de nossas águas”, diz McLellan. (Vandré Fonseca)

Outros links:

NOAA's Oceans and Human Health Initiative:

Georgia Oceans and Human Health Initiative at the University of Georgia:

University of Wisconsin - Milwaukee School of Freshwater Sciences: 


Fonte: O ECO
O Eco

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